domingo, 3 de junho de 2012

A teoria de Kohlberg


Para tentar perceber o desenvolvimento da moral, Kohlberg desenvolveu um estudo com várias crianças e adolescentes Kohlberg fez um estudo no qual apresentava aos sujeitos da investigação várias histórias ou dilemas morais hipotéticos que tinham como objetivo colocar o indivíduo diante de um conflito entre o cumprimento e das regras ou ao respeito pela autoridade em oposição a uma resposta utilitária ou de bem maior. Kohlberg utilizava o método clinico, tal como Piaget, apresentando a cada individuo uma história de cada vez, pedindo-lhe que a julgasse e apresentasse justificações e soluções para as suas escolhas. Uma das histórias mais utilizadas por Kohlberg na sua investigação era a história de Heinz. Através nestas historias e dilemas, Kohlberg propôs uma teoria, na qual referia que o desenvolvimento moral é feito a partir de uma sequência invariante, de 3 níveis de raciocínio moral. Cada um destes 3 níveis estava dividido em 2 estádios, o que no total faz 6 estádios de desenvolvimento.

NIVEL 1: MORALIDADE PRÉ-CONVENCIONAL OU PRÉ-MORAL (INFÂNCIA) - crianças do 1º ciclo, ou seja, crianças até aos 9 anos, bem como alguns adolescentes e grande número de delinquentes)

Neste nível, as egras e normas da sociedade (moralidade) são completamente externas ao sujeito, isto é, a criança adapta-se às regras que lhe são impostas pelas figuras de autoridade para evitar um castigo ou para obter recompensas.

·      Estádio 1: Moralidade heterónoma (orientação para a punição e obediência)

Neste estádio a criança tem um ponto de vista egocêntrico e, por isso, a criança apresenta um “respeito” egocêntrico em relação à autoridade, isto é, adapta-se ás regras para evitar um castigo ou para receber uma recompensa (decidindo o que está certo ou errado com base nas suas consequências). A criança não se preocupa com os diferentes pontos de vista e não consegue interpreta-los em simultâneo. A criança não tem noção da regra, nem consegue avaliar as intenções, sendo que para ela a gravidade de uma situação está relacionada com as consequências que esta pode trazer.

EX: As atrocidades de soldados durante o holocausto que estavam simplesmente a ‘obedecer a ordens’ sob ameaça de punição, mostram que os adultos, e não só as crianças, podem funcionar a este nível (o que é que eu posso fazer para evitar a punição?)

Em suma: neste estádio aquilo que está correto é a obediência às regras e à autoridade, como forma de evitar uma punição ou até mesmo receber uma recompensa.

·      Estádio 2: individualismo, propósito e troca instrumental.

Neste estádio o individuo tem uma mentalidade egoísta, pois para ele agir corretamente è satisfazer as suas necessidades e apenas ocasionalmente as dos outros. A criança obedece à autoridade não só para evitar castigos e receber recompensas, mas também para satisfazer alguma necessidade pessoal, ou seja, apenas deve obedecer às regras quando se trata do interesse imediato de alguém, agindo de forma a satisfazer os próprios interesses ou necessidades e deixar os outros fazerem o mesmo. A criança apenas faz coisas aos outros se eles lhe retribuírem o favor- reprocidade pragmática- sendo que criança não tem uma verdadeira noção da regra, pois para ela a gravidade de uma má ação depende da intenção de quem a prática. Neste estádio constrói-se a reciprocidade, mas é uma reciprocidade egoísta (ex.:. “Não está certo roubar numa loja. É contra a lei. Podia ser descoberto e alguém chamava a polícia”).

Em suma: neste estádio, o correto é a satisfação das nossas necessidades e interesses, sendo que aquilo que está certo é seguir as regras quando elas são benéficas para nós, deixando os outros fazer o mesmo. Neste estádio a criança reconhece que os outros também têm interesses e necessidades, sendo que assume uma prespectiva concreta individualista e separa os seus interesses dos outros. Os conflitos de interesses resolvem-se dando a todos uma parte igual.



NÍVEL 2: MORALIDADE CONVENCIONAL (ADOLESCÊNCIA) - da adolescência em diante [a maior parte dos adolescentes e adultos]; a maior parte das pessoas fica aqui, não avança mais.



Os indivíduos já interiorizam e adotam, como sendo suas, as regras morais e esforçam-se por obedecer às regras estabelecidas por outros, para obter reconhecimento pelo seu comportamento.

O indivíduo considera correto aquilo que está conforme e que respeita as regras, as expectativas e as convenções da sociedade.

·      Estádio 3: Expectativas interpessoais mútuas, relacionamento e conformidade interpessoal. Neste estádio as ações são avaliadas de acordo com as intenções de quem as pratica, sendo que o principal objetivo é ser considerado boa pessoa, ter boas intenções e estabelecer relações com os outros. O individuo passa agora a ter um pensamento mais abstrato, começando a preocupar-se com aquilo que os outros pensam ou sentem. A família e os pequenos grupos começam a tornar-se mais importantes, sendo que aquilo que importa é corresponder às expetativas das pessoas mais próximas ou áquilo que as pessoas esperam dos indivíduos, o que pode provocar várias vulnerabilidades (Ex: na adolescência os outros significativos (pares) podem atuar como pressão de normas de conduta. Pode originar situações de juízo contraditórias (em termos pessoais) e posições morais radicais, não há relativização (manda a maioria = estereótipos diversos consoante o grupo)).

Em suma: Neste estádio o mais correto é simpático, ser boa pessoa, dígono de confiança, vivendo de acordo com aquilo que os outros esperam que façamos. Este estádio é caraterizado tanto pela perspetiva do indivíduo como pela perspetiva dos outros. Uma pessoa que se situe neste estádio sabe relacionar-se com diferentes pessoas, ou seja, sabe aceitar diferentes pontos de vista em simultâneo e é capaz de colocar-se no papel dos outros.

·      Estádio4: Sistema e consciência social, manutenção da lei e da ordem.

Este estádio está relacionado com a obediência e respeito pelas leis e autoridade e pelas expetativas que a sociedade deposita em nós. Realização dos deveres faz-se não tanto para evitar a punição, mas com o objetivo de manter a ordem social, considerando que as leis existem para serem cumpridas e que a sociedade espera que cada um cumpra o seu dever.  A justiça obriga que aquele que infringir a lei seja “castigado” e que aqueles que obedecem às regas sejam recompensados, sendo que um comportamento é considerado correto ou moral, segundo a forma como se enquadra nas regras da sociedade. Espera-se um autossacrifício relativamente as figuras de autoridade, que raras vezes são questionadas (“Ele deve saber melhor. Ele é o Papa [ou o Presidente, ou o Juiz, ou Deus]). Por vezes surgem problemas quando as leis são pouco claras, e entra-se em conflito (e.g. dilema de Heinz- direito à vida da mulher versus direito de propriedade).

Em suma: Neste estádio, aquilo que está certo é cumprir as normas e regras da sociedade, mantendo a ordem da mesma e zelando pelo bem-estar de todos. Uma pessoa neste estádio assume o ponto de vista do sistema (aquilo que já está pré-definido) e considera as relações interpessoais em termos do seu lugar no sistema.



NÍVEL 3: MORALIDADE PÓS-CONVENCIONAL (só alguns adultos, a minoria dos adultos)

     A este nível o indivíduo considera sempre diversos pontos de vista e cada situação é pensada de modo a extrair-se princípios gerais (para todos). Um indivíduo situado neste nível compreende e aceita as regras da sociedade na sua globalidade, mas apenas porque primeiramente aceita determinados princípios morais gerais que lhe estão subjacentes. De facto, os princípios morais podem transcender figuras de autoridade ou até as normas ou valores de uma sociedade particular. No caso de um desses princípios entrar em conflito com as regras da sociedade, o indivíduo julgará com base nesse princípio e não na convenção social. Por outras palavras, os princípios morais são internalizados e tornam-se individualizados.

·      Estádio 5: Contrato social (ou direitos individuais democraticamente aceites (Exemplo: Constituição dos EUA)).

Neste estádio o comportamento moral consiste naquilo que expressa a vontade da maioria ou maximiza o bem-estar social. A sociedade deve basear-se num contrato social aceite livremente pelas pessoas e em que sejam respeitados direitos fundamentais como a vida e a liberdade individual e utilizados processos democráticos para alterar as leis e melhorar a sociedade.

Isto significa que as pessoas têm consciência de que os indivíduos defendem diferentes valores e opiniões, e de que grande parte dos valores e das regras são específicos de determinado grupo (embora devam ser normalmente respeitados a fim de se garantir a imparcialidade ou isenção, até porque fazem parte do contrato social). No entanto determinados valores e direitos não específicos, como a vida e a liberdade, têm de ser forçosamente defendidos em qualquer sociedade, independentemente da opinião da maioria.

Em suma: neste estádio, a escolha moral, aquilo que é coreto baseia-se nos direitos básicos, nos contratos legais e nos valores morais, mesmo que haja conflitos com as leis ou regras do grupo. O que é correto é ter consciência que as pessoas nem sempre partilham os mesmos valores e que, por vezes, as leis e as regras do grupo são injustas e não merecem, portanto, ser obedecidas. Aquilo que leva a que as pessoas façam o que está correto baseia-se na necessidade de respeitar os contratos e os direitos dos outros. Neste estádio o individuo considera o ponto de vista legal e o ponto de vista dos outros e procura reconhecer o conflito entre eles, de forma a fazer escolhas que tragam o maior bem para o maior número de pessoas.

·      Estádio 6: Princípios éticos universais.

Neste estádio está incluído um número muito reduzido de indivíduos. O comportamento que é considerado correto e moral  é controlado por um ideal interiorizado,  que é independentemente das reações dos outros, mas que respeita sempre os princípios universais (ex.: igualdade de direitos, dignidade e justiça). Neste estádio cada pessoa é vista como um meio e nunca como um meio. A definição daquilo que é correto ou errado é feita com base em princípios éticos que são adotados por cada individuo, sendo que se dá preferência pelo cumprimento do dever e pela consciência de cada individuo, por isso devemos seguir os nossos princípios éticos. Estes princípios não são regras concretas, mas sim orientações que cada individuo considera justos e que podem ser aplicados em todas as situações, sendo que estão relacionados com a conceção de justiça, direitos humanos e igualdade de oportunidades. Quando a lei viola os princípios éticos, a pessoa deve agir de acordo com os princípios éticos, ainda que tenha de violar as leis Indivíduos no estádio 6 são raros, muitas vezes valorizam os seus princípios mais do que a própria vida, muitas vezes são vistos como sendo o potencial humano máximo e, por isso, são frequentemente marginalizados por aqueles de estádios mais baixos, que se sentem envergonhados por verem as capacidades humanas tão desenvolvidas, comparado com as suas próprias capacidades que só estão parcialmente desenvolvidas.

Em suma: Neste estádio, o comportamento que se considera correto é aquele que obedece aos princípios éticos universais. As normas e regras, os contratos e acordos sociais são válidos sempre que respeitam esses princípios. A razão para fazer o que está certo é que a pessoa reconhece a validade dos princípios e procura cumpri-los.

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