Piaget desenvolveu um modelo teórico
explicativo do desenvolvimento moral baseado no respeito e compreensão das
regras. As investigações de Piaget permitiram-lhe concluir que existem
diferenças quanto ao respeito às regras em crianças de idades diferentes,
distinguindo-se as fases de heteronomia e autonomia moral.
·
Heteronomia moral (Realismo moral):
Decorre dos 4/5 anos até aos 8/9 anos. Nesta fase, a criança sabe que as regras
provêm de uma identidade superior (adultos, policias, deus, etc.) e sabe também
que estas são absolutas, fixas e imutáveis. A criança julga uma ação (boa ou
má) com base na sua consequência, não tendo em consideração a intenção do autor
da ação, ou seja, a moralidade é determinada pelas consequências materiais. A
criança tende a considerar que, sempre que alguém é punido, esse alguém deve
ter feito algo de errado, assumindo uma conexão absoluta entre o castigo e o
erro. Para uma criança de seis anos, se um menino deixar cair um gelado num
lago, ele é culpado por ter sido ‘desastrado’ e não deve ter outro gelado. Piaget
percebeu que uma criança pequena é incapaz de pensar em todas as circunstâncias
atenuantes (não consegue pensar em todas as possibilidades), mas que um
adolescente já consegue fazer julgamentos de uma forma justa e íntegra, sendo
capaz de pensar em várias possibilidades e alternativas.
·
Autonomia moral (relativismo moral):
Decorre a partir dos 8/9 anos. Esta fase é a fase da moral da colaboração e da
reciprocidade. Piaget constatou que, por volta de 10 anos, a criança passa a
perceber a regra como o resultado de livre decisão, podendo ser modificada, e
como digna de respeito, desde que mutuamente consentido. Baseia-se no respeito
mútuo e não no respeito unilateral.
Piaget
mostra a distinção entre juízos “realistas” (centrados no resultado em sim
mesmo) e dos juízos “subjetivos”, de nível mais elaborado, que têm já em conta
a intenção subjacente. Piaget concluiu que crianças diferentes adquiriram
versões diferentes das regras e, ao brincarem juntas, essas discrepâncias
tornar-se-ão evidentes e terão de ser resolvidas. De acordo com Piaget, este
contacto com pontos de vistas divergentes constituía um elemento crucial para o
desenvolvimento da moralidade autónoma de reciprocidade.
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