domingo, 3 de junho de 2012

A teoria de Kohlberg


Para tentar perceber o desenvolvimento da moral, Kohlberg desenvolveu um estudo com várias crianças e adolescentes Kohlberg fez um estudo no qual apresentava aos sujeitos da investigação várias histórias ou dilemas morais hipotéticos que tinham como objetivo colocar o indivíduo diante de um conflito entre o cumprimento e das regras ou ao respeito pela autoridade em oposição a uma resposta utilitária ou de bem maior. Kohlberg utilizava o método clinico, tal como Piaget, apresentando a cada individuo uma história de cada vez, pedindo-lhe que a julgasse e apresentasse justificações e soluções para as suas escolhas. Uma das histórias mais utilizadas por Kohlberg na sua investigação era a história de Heinz. Através nestas historias e dilemas, Kohlberg propôs uma teoria, na qual referia que o desenvolvimento moral é feito a partir de uma sequência invariante, de 3 níveis de raciocínio moral. Cada um destes 3 níveis estava dividido em 2 estádios, o que no total faz 6 estádios de desenvolvimento.

NIVEL 1: MORALIDADE PRÉ-CONVENCIONAL OU PRÉ-MORAL (INFÂNCIA) - crianças do 1º ciclo, ou seja, crianças até aos 9 anos, bem como alguns adolescentes e grande número de delinquentes)

Neste nível, as egras e normas da sociedade (moralidade) são completamente externas ao sujeito, isto é, a criança adapta-se às regras que lhe são impostas pelas figuras de autoridade para evitar um castigo ou para obter recompensas.

·      Estádio 1: Moralidade heterónoma (orientação para a punição e obediência)

Neste estádio a criança tem um ponto de vista egocêntrico e, por isso, a criança apresenta um “respeito” egocêntrico em relação à autoridade, isto é, adapta-se ás regras para evitar um castigo ou para receber uma recompensa (decidindo o que está certo ou errado com base nas suas consequências). A criança não se preocupa com os diferentes pontos de vista e não consegue interpreta-los em simultâneo. A criança não tem noção da regra, nem consegue avaliar as intenções, sendo que para ela a gravidade de uma situação está relacionada com as consequências que esta pode trazer.

EX: As atrocidades de soldados durante o holocausto que estavam simplesmente a ‘obedecer a ordens’ sob ameaça de punição, mostram que os adultos, e não só as crianças, podem funcionar a este nível (o que é que eu posso fazer para evitar a punição?)

Em suma: neste estádio aquilo que está correto é a obediência às regras e à autoridade, como forma de evitar uma punição ou até mesmo receber uma recompensa.

·      Estádio 2: individualismo, propósito e troca instrumental.

Neste estádio o individuo tem uma mentalidade egoísta, pois para ele agir corretamente è satisfazer as suas necessidades e apenas ocasionalmente as dos outros. A criança obedece à autoridade não só para evitar castigos e receber recompensas, mas também para satisfazer alguma necessidade pessoal, ou seja, apenas deve obedecer às regras quando se trata do interesse imediato de alguém, agindo de forma a satisfazer os próprios interesses ou necessidades e deixar os outros fazerem o mesmo. A criança apenas faz coisas aos outros se eles lhe retribuírem o favor- reprocidade pragmática- sendo que criança não tem uma verdadeira noção da regra, pois para ela a gravidade de uma má ação depende da intenção de quem a prática. Neste estádio constrói-se a reciprocidade, mas é uma reciprocidade egoísta (ex.:. “Não está certo roubar numa loja. É contra a lei. Podia ser descoberto e alguém chamava a polícia”).

Em suma: neste estádio, o correto é a satisfação das nossas necessidades e interesses, sendo que aquilo que está certo é seguir as regras quando elas são benéficas para nós, deixando os outros fazer o mesmo. Neste estádio a criança reconhece que os outros também têm interesses e necessidades, sendo que assume uma prespectiva concreta individualista e separa os seus interesses dos outros. Os conflitos de interesses resolvem-se dando a todos uma parte igual.



NÍVEL 2: MORALIDADE CONVENCIONAL (ADOLESCÊNCIA) - da adolescência em diante [a maior parte dos adolescentes e adultos]; a maior parte das pessoas fica aqui, não avança mais.



Os indivíduos já interiorizam e adotam, como sendo suas, as regras morais e esforçam-se por obedecer às regras estabelecidas por outros, para obter reconhecimento pelo seu comportamento.

O indivíduo considera correto aquilo que está conforme e que respeita as regras, as expectativas e as convenções da sociedade.

·      Estádio 3: Expectativas interpessoais mútuas, relacionamento e conformidade interpessoal. Neste estádio as ações são avaliadas de acordo com as intenções de quem as pratica, sendo que o principal objetivo é ser considerado boa pessoa, ter boas intenções e estabelecer relações com os outros. O individuo passa agora a ter um pensamento mais abstrato, começando a preocupar-se com aquilo que os outros pensam ou sentem. A família e os pequenos grupos começam a tornar-se mais importantes, sendo que aquilo que importa é corresponder às expetativas das pessoas mais próximas ou áquilo que as pessoas esperam dos indivíduos, o que pode provocar várias vulnerabilidades (Ex: na adolescência os outros significativos (pares) podem atuar como pressão de normas de conduta. Pode originar situações de juízo contraditórias (em termos pessoais) e posições morais radicais, não há relativização (manda a maioria = estereótipos diversos consoante o grupo)).

Em suma: Neste estádio o mais correto é simpático, ser boa pessoa, dígono de confiança, vivendo de acordo com aquilo que os outros esperam que façamos. Este estádio é caraterizado tanto pela perspetiva do indivíduo como pela perspetiva dos outros. Uma pessoa que se situe neste estádio sabe relacionar-se com diferentes pessoas, ou seja, sabe aceitar diferentes pontos de vista em simultâneo e é capaz de colocar-se no papel dos outros.

·      Estádio4: Sistema e consciência social, manutenção da lei e da ordem.

Este estádio está relacionado com a obediência e respeito pelas leis e autoridade e pelas expetativas que a sociedade deposita em nós. Realização dos deveres faz-se não tanto para evitar a punição, mas com o objetivo de manter a ordem social, considerando que as leis existem para serem cumpridas e que a sociedade espera que cada um cumpra o seu dever.  A justiça obriga que aquele que infringir a lei seja “castigado” e que aqueles que obedecem às regas sejam recompensados, sendo que um comportamento é considerado correto ou moral, segundo a forma como se enquadra nas regras da sociedade. Espera-se um autossacrifício relativamente as figuras de autoridade, que raras vezes são questionadas (“Ele deve saber melhor. Ele é o Papa [ou o Presidente, ou o Juiz, ou Deus]). Por vezes surgem problemas quando as leis são pouco claras, e entra-se em conflito (e.g. dilema de Heinz- direito à vida da mulher versus direito de propriedade).

Em suma: Neste estádio, aquilo que está certo é cumprir as normas e regras da sociedade, mantendo a ordem da mesma e zelando pelo bem-estar de todos. Uma pessoa neste estádio assume o ponto de vista do sistema (aquilo que já está pré-definido) e considera as relações interpessoais em termos do seu lugar no sistema.



NÍVEL 3: MORALIDADE PÓS-CONVENCIONAL (só alguns adultos, a minoria dos adultos)

     A este nível o indivíduo considera sempre diversos pontos de vista e cada situação é pensada de modo a extrair-se princípios gerais (para todos). Um indivíduo situado neste nível compreende e aceita as regras da sociedade na sua globalidade, mas apenas porque primeiramente aceita determinados princípios morais gerais que lhe estão subjacentes. De facto, os princípios morais podem transcender figuras de autoridade ou até as normas ou valores de uma sociedade particular. No caso de um desses princípios entrar em conflito com as regras da sociedade, o indivíduo julgará com base nesse princípio e não na convenção social. Por outras palavras, os princípios morais são internalizados e tornam-se individualizados.

·      Estádio 5: Contrato social (ou direitos individuais democraticamente aceites (Exemplo: Constituição dos EUA)).

Neste estádio o comportamento moral consiste naquilo que expressa a vontade da maioria ou maximiza o bem-estar social. A sociedade deve basear-se num contrato social aceite livremente pelas pessoas e em que sejam respeitados direitos fundamentais como a vida e a liberdade individual e utilizados processos democráticos para alterar as leis e melhorar a sociedade.

Isto significa que as pessoas têm consciência de que os indivíduos defendem diferentes valores e opiniões, e de que grande parte dos valores e das regras são específicos de determinado grupo (embora devam ser normalmente respeitados a fim de se garantir a imparcialidade ou isenção, até porque fazem parte do contrato social). No entanto determinados valores e direitos não específicos, como a vida e a liberdade, têm de ser forçosamente defendidos em qualquer sociedade, independentemente da opinião da maioria.

Em suma: neste estádio, a escolha moral, aquilo que é coreto baseia-se nos direitos básicos, nos contratos legais e nos valores morais, mesmo que haja conflitos com as leis ou regras do grupo. O que é correto é ter consciência que as pessoas nem sempre partilham os mesmos valores e que, por vezes, as leis e as regras do grupo são injustas e não merecem, portanto, ser obedecidas. Aquilo que leva a que as pessoas façam o que está correto baseia-se na necessidade de respeitar os contratos e os direitos dos outros. Neste estádio o individuo considera o ponto de vista legal e o ponto de vista dos outros e procura reconhecer o conflito entre eles, de forma a fazer escolhas que tragam o maior bem para o maior número de pessoas.

·      Estádio 6: Princípios éticos universais.

Neste estádio está incluído um número muito reduzido de indivíduos. O comportamento que é considerado correto e moral  é controlado por um ideal interiorizado,  que é independentemente das reações dos outros, mas que respeita sempre os princípios universais (ex.: igualdade de direitos, dignidade e justiça). Neste estádio cada pessoa é vista como um meio e nunca como um meio. A definição daquilo que é correto ou errado é feita com base em princípios éticos que são adotados por cada individuo, sendo que se dá preferência pelo cumprimento do dever e pela consciência de cada individuo, por isso devemos seguir os nossos princípios éticos. Estes princípios não são regras concretas, mas sim orientações que cada individuo considera justos e que podem ser aplicados em todas as situações, sendo que estão relacionados com a conceção de justiça, direitos humanos e igualdade de oportunidades. Quando a lei viola os princípios éticos, a pessoa deve agir de acordo com os princípios éticos, ainda que tenha de violar as leis Indivíduos no estádio 6 são raros, muitas vezes valorizam os seus princípios mais do que a própria vida, muitas vezes são vistos como sendo o potencial humano máximo e, por isso, são frequentemente marginalizados por aqueles de estádios mais baixos, que se sentem envergonhados por verem as capacidades humanas tão desenvolvidas, comparado com as suas próprias capacidades que só estão parcialmente desenvolvidas.

Em suma: Neste estádio, o comportamento que se considera correto é aquele que obedece aos princípios éticos universais. As normas e regras, os contratos e acordos sociais são válidos sempre que respeitam esses princípios. A razão para fazer o que está certo é que a pessoa reconhece a validade dos princípios e procura cumpri-los.

Piaget


Piaget desenvolveu um modelo teórico explicativo do desenvolvimento moral baseado no respeito e compreensão das regras. As investigações de Piaget permitiram-lhe concluir que existem diferenças quanto ao respeito às regras em crianças de idades diferentes, distinguindo-se as fases de heteronomia e autonomia moral.

·      Heteronomia moral (Realismo moral): Decorre dos 4/5 anos até aos 8/9 anos. Nesta fase, a criança sabe que as regras provêm de uma identidade superior (adultos, policias, deus, etc.) e sabe também que estas são absolutas, fixas e imutáveis. A criança julga uma ação (boa ou má) com base na sua consequência, não tendo em consideração a intenção do autor da ação, ou seja, a moralidade é determinada pelas consequências materiais. A criança tende a considerar que, sempre que alguém é punido, esse alguém deve ter feito algo de errado, assumindo uma conexão absoluta entre o castigo e o erro. Para uma criança de seis anos, se um menino deixar cair um gelado num lago, ele é culpado por ter sido ‘desastrado’ e não deve ter outro gelado. Piaget percebeu que uma criança pequena é incapaz de pensar em todas as circunstâncias atenuantes (não consegue pensar em todas as possibilidades), mas que um adolescente já consegue fazer julgamentos de uma forma justa e íntegra, sendo capaz de pensar em várias possibilidades e alternativas.

·      Autonomia moral (relativismo moral): Decorre a partir dos 8/9 anos. Esta fase é a fase da moral da colaboração e da reciprocidade. Piaget constatou que, por volta de 10 anos, a criança passa a perceber a regra como o resultado de livre decisão, podendo ser modificada, e como digna de respeito, desde que mutuamente consentido. Baseia-se no respeito mútuo e não no respeito unilateral.


Piaget mostra a distinção entre juízos “realistas” (centrados no resultado em sim mesmo) e dos juízos “subjetivos”, de nível mais elaborado, que têm já em conta a intenção subjacente. Piaget concluiu que crianças diferentes adquiriram versões diferentes das regras e, ao brincarem juntas, essas discrepâncias tornar-se-ão evidentes e terão de ser resolvidas. De acordo com Piaget, este contacto com pontos de vistas divergentes constituía um elemento crucial para o desenvolvimento da moralidade autónoma de reciprocidade.

Desenvolvimento moral


Este raciocínio refere-se à forma como consideramos um determinado ato certo ou errado. O modo como o raciocínio moral ou juízo de valor moral se desenvolve diz respeito à idade em que a criança poderá ser considerada moralmente responsável e está ligado ao desenvolvimento cognitivo.

Estádios de desenvolvimento


Segundo Erickson, o desenvolvimento da personalidade dá-se em 8 estádios, sendo que cada estádio se preocupa com os aspetos biológicos, individuais e sociais. A formação da identidade começa nos primeiros anos de vida e vai-se ajustando e evoluindo na adolescência e influenciando os restantes estádios. Para Erickson a adolescência é uma fase muito importante, visto ser o período de transição entre a infância e a idade adulta. Erickson defendia que  a identidade desenvolvia-se através da vivência de crises sucessivas, sendo que depois de resolvida essa crise, o individuo sentir-se-á mais ou menos adaptado ao contexto social, tirando conclusões para melhor perceber o relacionamento consigo próprio, com os outros e com o mundo. Em cada estádio existem duas alternativas: quando o estádio evolutivo é satisfatoriamente alcançado, o produto será uma personalidade saudável; quando não é atingido, o resultado será uma personalidade emocionalmente imatura ou desajustada. Isto significa que uma boa resolução de uma crise torna o individuo mais confiante e com uma maior capacidade de perceber o ambiente que o rodeia, a si e aos outros. Para Erickson virtude significava uma nova aprendizagem que ocorria quando se dava uma “boa” resolução da crise.

Em suma, para Erickson era fundamental o desenvolvimento e construção da identidade pessoal.

 
1.    Confiança/desconfiança: este estádio ocorre desde o nascimento até aos 18 meses, aproximadamente. Nesta fase o relacionamento com a mãe é muito importante, pois é aqui que o bebé vai adquirir a confiança e segurança em relação a si e ao mundo que o rodeia através da relação que mantém com a mãe. 
Se a mãe não responde às necessidades do bebé isto poderá trazer consequências para a vida adulta do bebé (medos, receios, desconfianças,…). Se existe uma boa e saudável relação entre o bebé e a mãe, a criança irá desenvolver novas capacidades, como a confiança e o sentimento de segurança que sente em relação ao ambiente que o rodeia, permitindo que posteriormente lhe seja mais fácil adaptar-se a novas situações, diferentes pessoas e ambientes, ganhando, assim, mais confiança.
As virtudes básicas que resultam desta crise são a esperança e o impulso. Esta fase corresponde à fase oral da teoria freudiana.
2.    Autonomia/ Vergonha e dúvida: esta fase ocorre entre os 18 meses e os 3 anos, aproximadamente. Caracteriza-se pela discordância entre os impulsos (vontade própria) e as normas e regras que a criança começa a aprender. Nesta fase as crianças sentem mais necessidade de proteção, mas também gostam de explorar o mundo e o seu corpo, ou seja, de experimentar. Como tal, é nesta fase que as crianças gostam de desenvolver e melhorar as suas capacidades motoras.
O ambiente em que a criança se insere deve ser estimulante, para que a criança seja encorajada a fazer as coisas de forma autónoma, mas não o deve ser em demasia, para que a criança não sinta vergonha caso não consiga realizar algo. Se a criança for devidamente estimulada, ela consegue desenvolver as suas capacidades, tornando-se mais autónoma e desenvolvendo-se e de uma forma saudável. Se acontece o contrário, isto é, se a criança começa a usar as suas capacidades cedo de mais ou é incentivada a nãos as usar, pode desenvolver sentimentos de dúvida e de vergonha. A criança precisa de poder experimentar e de se sentir protegida no processo de autonomização. Este estádio corresponde à fase anal da teoria de Freud, sendo que as virtudes resultantes desta crise são o autocontrolo e a força de vontade.
3.    Iniciativa/Culpa (serei bom ou serei mau?): Esta fase ocorre desde os 3 até aos 6 anos, aproximadamente. Esta fase é uma continuação da fase anterior, sendo que a criança já deve saber distinguir aquilo que pode ou não fazer. A criança continua desenvolver as suas capacidades intelectuais, tal como o pensamento e a linguagem, o que faz com o seu desejo de experimentar aumente. Neste estádio, a criança é confrontada com a possibilidade de tomar a iniciativa sem que adquira o sentimento de culpa, isto é, criança tem uma preocupação com a aceitabilidade dos seus comportamentos, desenvolve capacidades motoras, de linguagem, pensamento, imaginação e curiosidade.
Se os pais não compreendem e aceitam estas iniciativas da criança (jogos, brincadeiras, perguntas, etc.), esta irá sentir-se insegura e culpada, evitando agir em conformidade com os seus desejos. Deve-se estimular a criança no sentido de que pode ser aquilo que imagina ser, sem sentir culpa. A culpa é descrita como interiorizada, internalizada. Este estádio corresponde à fase fálica freudiana e as virtudes que resultam desta crise são a tenacidade (perseverança), o propósito e a direção.
4.    Mestria/Inferioridade (serei competente ou incompetente?): Decorre entre os 6 e os 12 anos. Segundo Erickson, nesta fase dão-se grandes aprendizagens sociais, que estão relacionadas com a produtividade, desenvolvimento e competências. Este é um período muito importante, visto que a criança vai para a escola e espera-se que esta desenvolva as suas capacidades intelectuais e sociais. Assim sendo, a criança pensa no sucesso e no êxito e nas várias formas para o atingir. Neste estádio é muito importante a resolução dos estádios anteriores é muito importante, pois sem confiança, autonomia ou confiança, a criança é incapaz de se afirmar ou sentir-se capaz. Caso isto não aconteça, a criança não acredita nas suas capacidades, sentindo-se menos capaz, ou seja, inferior. Então, este sentimento negativo de insegurança e inferioridade advêm do facto de a criança não se sentir segura das suas capacidades ou do seu papel na sociedade e de não se sentir reconhecida no meio em que se insere. Este estádio corresponde ao estádio de latência de Freud e as virtudes que resultam da resolução desta crise são a competência/capacidade e o método.
5.    Identidade/ Confusão de identidade (quem sou eu?): Este estádio marca o período da adolescência e decorre desde os 12 até aos 18/20 anos. É neste estádio que se adquire uma identidade psicossocial: o adolescente precisa de entender o seu papel no mundo e tem consciência da sua singularidade, isto é, o adolescente sabe que é um ser único e singular, com identidade própria, mas que está inserido num contexto social onde tem de desempenhar vários papéis (por ex.: jovem, amigo, estudante, seguidor, líder, trabalhador, homem ou mulher).O individuo passa pela chamada “crise da adolescência”, sendo que a forma como ele passou e resolveu as outras fases é muito importante para a forma como irá resolver esta crise. É nesta a idade que, na vertente positiva, o adolescente vai adquirir uma identidade pessoal e psicossocial, isto é, entende a sua singularidade, o seu papel no mundo. Numa vertente negativa, estão relacionados os aspetos de confusão, ele ainda não se encontrou a si próprio, não sabe o que quer e tem dificuldade em fazer opções. Fatores que contribuem para a confusão da identidade são: perda de laços familiares e falta de apoio no crescimento; expectativas parentais e sociais divergentes do grupo de pares; dificuldades em lidar com a mudança; falta de laços sociais exteriores à família (que permitem o reconhecimento de outras perspetivas) e o insucesso no processo de separação emocional entre a criança e as figuras de ligação. As virtudes que resultam desta crise são a fidelidade (lealdade para consigo próprio) e a devoção. Para que ocorra a crise da adolescência são necessárias as seguintes condições: um certo nível de desenvolvimento intelectual, a ocorrência da puberdade, um certo crescimento físico e pressões culturais que levem o adolescente à efetiva re-síntese da sua identidade.
6.    Intimidade/ Isolamento: Decorre entre os 18/20 anos até aos 30/35 anos.  O principal fundamento deste estádio é o estabelecimento de relações íntimas duráveis, que podem ser amorosas ou de amizade, com outras pessoas. Por serem relações intimas, é necessário que o individuo tenha a capacidade de se relacionar com o outro, numa base de compromissos, alteração de hábitos e, mesmo, de aceitação de sacrifícios. No lado positivo, o jovem adulto, que tem já uma identidade assumida, é capaz de se relacionar com outros e criar, com estes, uma relação de intimidade. O lado negativo está relacionado com o isolamento, por parte do individuo que não consegue estabelecer este tipo de relações com os outros. Esta dificuldade de se comprometer com o outro, leva o individuo a isolar-se e a fechar-se em si mesmo. Neste estádio as virtudes desta crise são o amor e a filiação (querer sentir-se querido).
7.    Realização/ Estagnação: decorre entre o 30/35 e os 60 anos. Este estádio caracteriza-se pela necessidade de o individuo orientar as gerações futuras, isto é, dar o seu contributo à sociedade. É, por isso, uma fase de afirmação tanto a nível profissional com a nível familiar. A pessoa sente que dá o seu contributo à sociedade ao instruir e ensinar os outros.
O lado positivo é o sentimento de que se tem coisas interessantes a passar às gerações vindouras e o lado negativo é a preocupação dos seus interesses próprios e superficiais. Leva o indivíduo à estagnação nos compromissos sociais, à falta de relações exteriores, à preocupação exclusiva com o seu bem-estar, posse de bens materiais e egoísmo. As virtudes básicas que se adquirem com a resolução desta crise são o cuidado, a ajuda aos outros e a produção.
8.    Integridade/ Desespero (Valeu a pena ter vivido?): decorre a partir dos 60 anos. Esta fase corresponde à assimilação e compreensão das vivências do passado, pois este faz um balanço da vida avaliando o que fez com e da mesma.
O lado positivo é a integridade, na qual o individuo faz uma avaliação positiva de tudo aquilo que viveu, mesmo que nem todos os seus desejos e sonhos se tenham realizado, ficando satisfeito e aceitando esta nova etapa da vida. Quando se considera positivo o que se viveu e se compreende a nossa existência ao longo de várias idades, faz-se: “… a integração cumulativa do ego.”. O lado negativo está relacionado com o desespero, sendo que o individuo sente que não aproveitou a sua vida, considerando-a pouco produtiva e lamentando as oportunidades perdidas e o facto de ser demasiado tarde para corrigir os erros e comportamentos do passado. O individuo renega a vida, fracassado pela falta de poderes físicos, sociais e cognitivos, sendo que este estádio é mal ultrapassado. As virtudes básicas que resultam desta crise são a sabedoria e a renúncia.

Desenvolvimento psicossocial


Erickson discorda da teoria de Freud por estes aspetos:

·      Valorização exagerada da energia libidinal como chave explicativa do desenvolvimento;

·      Redução do desenvolvimento aos períodos que decorrem da infância à adolescência;

·      Subestimação das interações indivíduo- meio;

·      Privilégio concedido à vertente patológica da personalidade.



Os pressupostos de Erickson eram os seguintes:

·      A energia que orienta o desenvolvimento é essencialmente de natureza psicossocial, havendo portanto uma valorização interação entre a personalidade em transformação e o meio social;

·      O desenvolvimento é um processo contínuo que se inicia com o nascimento e se prolonga até ao final da vida;

·      A personalidade constrói-se à medida que a pessoa progride por estádios psicossociais que, no seu conjunto, constituem o ciclo da vida;

·      Em cada estádio manifesta-se uma crise que é vivida em função de aspetos biológicos, individuais e sociais. A crise consiste num conflito ou dilema que deve ser resolvido, sendo que existe uma solução positiva e negativa para cada um deles;

·      Quando as crises são resolvidas de forma positiva, resultam em equilíbrio e saúde mental, já as soluções negativas das crises conduzem ao desajustamento e ao sentimento de fracasso;

Mecanismos de defesa


O ego, o superego e o id estão em constante conflito, sendo que o ego tem de intervir constantemente para mediar os impulsos (id) e os atos de consciência (superego). Os mecanismos de defesa são processos subconscientes ou mesmo inconscientes que permitem à mente encontrar uma solução para conflitos não resolvidos ao nível da consciência e que são utilizados pelo ego. A base dos mecanismos de defesa são as angústias, revelando-se pelo fato de o indivíduo não conseguir lidar com algumas situações, que considera ameaçadoras.Quanto maior a nossa angustia, mais fortemente os mecanismos de defesa ficam ativados. Dentro de certos limites, os mecanismos de defesa são considerados normais e até podem ser encontrados em pessoas saudáveis, mas a sua existência excessiva pode indicar sintomas neuróticos ou até mesmo psicóticos.

Os mecanismos de defesa mais importantes são a negação, a projeção, a formação reativa, o deslocamento e a regressão.

·      Negação: A pessoa nega a existência de pensamentos ou sentimentos problemáticos, recusando aceitar a realidade. (Exemplo: "Este problema não é meu!”)

·      Projeção: A pessoa dissimula impulsos, conflitos ou sentimentos pessoais inconvenientes, atribuindo-os a outras pessoas (Exemplo: Não gostamos de uma determinada pessoa e ‘preferimos’ acreditar que é a outra pessoa que não gosta de nós).

·      Formação reativa: A pessoa comporta-se de uma forma contrária aos seus impulsos, quando estes não podem ser demonstrados (Exemplo: Ser muito bem tratado na casa da namorada pela mãe dela, mas sentir que a futura "sogra" detestou a visita; aqui a sogra usaria a formação reativa para ocultar os seus verdadeiros desejos.)

·      Deslocamento: A pessoa direciona as características e particularidades de um objeto para outro (Exemplo: Chatear-se com o chefe no trabalho e quando chegar a casa bater no cão, como se ele fosse o culpado da sua frustração).

·      Regressão: A pessoa a estádios anteriores do seu desenvolvimento como forma de lidar com uma situação stressante (Exemplo: Em certas situações, chorar pode ser uma regressão à infância, numa situação em que foi através do choro que a pessoa resolveu o problema).

Estádios psicossexuais


Freud organizou o desenvolvimento da personalidade em estádios, durante estes estádios as crianças obtêm prazer através da estimulação de zonas erógenas (zonas que quando estimuladas dão prazer). Cada estádio é caracterizado pela sua zona erógena. Existem as fases oral, anal, fálica, latente e genital.

1.    Estádio oral: este estádio vai desde o nascimento até cerca dos 18 meses/ 2 anos, sendo que a zona de prazer e gratificação está centrada na boca (sugar, comer, provar). As primeiras sensações de prazer que a criança experimenta são a de sugar o leite materno, comer e provar alimentos. Neste período começa a formar-se a personalidade, sendo que, segundo Freud uma fixação nesta fase pode levar a comportamentos exagerados relacionados com a satisfação oral, como beijar, beber, comer. Uma boa resolução neste período permite aumentar a confiança e independência da criança.

 Em suma:

·      A zona erógena do bebé, nos primeiros meses é constituída pelos lábios e cavidade bucal.

·      Neste período são particularmente importantes as perceções visuais e auditivas.

·      A alimentação é uma grande fonte de satisfação.

·      Chupar o seio materno é para os freudianos a primeira atividade sexual.

·      Nesta altura a relação entre o bebé e a mãe, vai ter reflexos na vida futura.

·      É neste estádio que o ego se forma.

2.    Estádio anal: este período vai dos 18 meses/2anos até aos 4 anos. Nesta fase o bebé começa a desenvolver o controlo dos músculos relacionados com a defecação e, por isso, a pressão que é exercida nos músculos do esfíncter anal provoca uma sensação de prazer, sendo agradável para o bebé. Assim sendo, a zona erógena desta fase é constituída pela região anal, sendo que é geralmente nesta fase que a criança começa a aprender novos hábitos de higiene. Como tal, se as crianças se sentirem demasiado pressionadas começaram a reter as fezes ou a expulsa-las em momentos inoportunos, sendo, por isso, nesta fase que a criança começa a desenvolver os conceito decerto e errado e como se refere na segunda teoria, inicia-se o desenvolvimento da consciência- superego. Uma educação muito rígida ou muito tolerante pode originar 2 tipos de personalidade:

     - Retentivo-anal: Se o indivíduo foi educado com excessivo rigor, ele poderá tornar-se uma pessoa extremamente meticulosa e supersensível, sempre perseguida pelo sentimento de culpa.

     - Expulsivo-anal: Se, por outro lado, não houve qualquer restrição ao seu comportamento nesse período, ele pode se tornar um tipo humano desorganizado e com tendências absolutistas prejudiciais a si mesmo e à sociedade. É, por isso, necessário ter uma atitude equilibrada para que a criança se desenvolva normalmente.

Em suma:

·      Neste estádio a zona erógena é a região anal.

·      Há uma sexualidade autoerótica.

·      A maturação e o desenvolvimento psicomotor vão permitir à criança reter ou expulsar as fezes e a urina.

·      O controlo da defecação gera simultaneamente sentimentos de prazer e dor - ambivalência.

·      Este período etário corresponde a uma fase em que a criança é mais autónoma, procurando afirmar-se e realizar as suas vontades.

·      Faz-se a educação para a higiene.

·      Há um reforço do superego.

3.    Estádio fálico: este estádio inicia-se a partir dos 3 anos e termina por volta dos 5/6 anos. A partir dos 4 anos, a zona erógena passa a ser a zona genital, sendo esta uma idade de exibicionismo, pois é nesta fase que a criança descobre que há diferenças entre os órgãos genitais femininos e masculinos e obtém prazer tocando nas zonas genitais. Se as crianças sentem que é vergonhoso a estimulação das zonas erógenas, podem ficar com medo da castração (rapazes) ou com inveja do pénis (raparigas), o que poderá trazer consequências nos relacionamentos sexuais. Nesta fase aparece o complexo de Édipo (para os rapazes), que se deve ao facto de o rapaz nutrir uma atração especial pela mãe, ao mesmo tempo que desenvolve uma agressividade competitiva em relação ao pai (para o rapaz, o pai é um rival que gostaria de afastar ou de ver desaparecer), embora imite o pai na tentativa de conquistar a mãe, desenvolvendo assim características de masculinidade.

Aparece também o complexo de Electra (para as raparigas), que é semelhante ao complexo de Édipo, mas em relação ao pai. Estes sentimentos de atração pelo sexo oposto e a simultânea vontade de eliminar a pessoa do sexo oposto, permite à criança experimentar sensações de ódio e amor. Para as crianças esta era a primeira experiencia de amor heterossexual. Primeiro a criança tenta excluir o pai do sexo oposto, mas ao longo do tempo consegue aperceber-se das semelhanças entre ambos (por ex. entre a filha e a mãe) e começa a construir o seu conceito de masculinidade (no caso dos rapazes) ou de feminilidade (no caso das raparigas). Quando estes complexos não são bem resolvidos, quer por ser dada demasiada ou pouca atenção, pode haver uma fixação nesta fase podendo provocar comportamento bipolares na personalidade como orgulho-humildade; sedução-retraimento; promiscuidade-castidade.

     Em suma:

·      Neste estádio a zona erógena é a região genital e o órgão sexual é a fonte de prazer, sendo comum a sua manipulação.

·      As crianças estão interessadas nas diferenças anatómicas entre os sexos, às interações homem e mulher, tem brincadeiras que exploram essa interação (aos pais e às mães). Tem comportamentos exibicionistas e gostam de espreitar.

·      Complexo de Édipo, onde o rapaz desenvolve uma atração pela mãe e vê o pai como um rival.

·      A formação de um conceito do ‘eu’, facilitado pela aquisição da linguagem articulada;

·      A definição da identidade sexual do indivíduo, através da qual ele aprende a comportar-se de acordo com as expectativas da sociedade;

·      A aquisição de sua consciência moral, que vai além da simples limitação do comportamento do mundo adulto e que é capaz de levar o indivíduo a se sentir culpado em face da violação das regras de conduta do seu meio social;

·      O desenvolvimento dos padrões de agressão, que resulta de vários fatores, dentre os quais se salientam a severa punição física, identificação com o agressor e a frustração;

·       As motivações básicas do sentido de competência e a necessidade de realização, ambas muito dependentes das condições do meio e da fundamental importância param o desenvolvimento adequado do ser humano.


4.    Estádio de latência: ocorre entre os 5/6 anos cerca dos 11 anos e, que representa o período de maturação dos órgãos genitais. Neste estádio não existem quase desejos sexuais, o que se deve à amnesia infantil, que é um processo pelo qual a criança reprime no inconsciente as experiências fortes do estádio fálico. A criança passa agora a ter uma maior curiosidade intelectual do que sexual, sendo que o aparelho psíquico constituído pelo id, ego e superego está totalmente organizado e a personalidade está praticamente desenvolvida.

  Em suma:

·      Após a vivência dos complexos e com um superego já formado a criança entra numa fase da latência, ou seja, entra numa aparente atenuação da atividade sexual.

·      Ocorre a amnésia infantil.

·      A criança investe a sua energia nas atividades escolares, sociais e culturais

5.    Estádio genital: este estádio refere-se à puberdade e adolescência, sendo uma nova fase de sexualidade, o que se explica pela produção de hormonas sexuais e o desenvolvimento dos órgãos sexuais. Repetem-se, então, os períodos anteriores, bem como os problemas e conflitos que lhe estão associados. Revive-se novamente o complexo de Édipo e de Electra, havendo um novo amor heterossexual, mas agora este amor é canalizado para alguém que se encontra fora do seio familiar. Os jovens tentam satisfazer os impulsos da libido através de práticas sexuais de natureza genital. Neste período não há fixação, pois é o ultimo período de desenvolvimento psicossexual.

Desenvolvimento ao longo da infância e da adolescência

Desenvolvimento pessoal

Antes de Freud, pensava-se que as crianças eram criaturas sem mente, ou seja, incapazes de organizar a suas estruturas mentais e que tinham mais semelhanças com os animais do que com os seres humanos.


Desenvolvimento emocional na infância segundo a perspetiva de Freud

Para Freud o objeto de estudo era o inconsciente e, como tal, ele tentava explicar e compreender os comportamentos observáveis através da análise de fenómenos psíquicos (do inconsciente). Freud dizia que “O consciente é apenas a ponta do iceberg”, ou seja aquilo que se vê e que podemos analisar, dado que manifestamos de forma voluntária. No entanto, não é o único fator da mente humana. Existe também o pré-inconsciente (na imagem do iceberg é representada superfície do oceano), e o inconsciente (porção maior do iceberg), que apesar de escondida e de não se manifestar voluntariamente, irá ser considerado o fator principal. Freud conclui que os nossos impulsos, desejos, força, etc., ou seja, os nossos fatores inconscientes, influenciam o nosso comportamento e as nossas ações.

Freud defendia que alguns acontecimentos passados e que já não são recordados na atualidade podem influenciar o desenvolvimento e comportamento de um individuo (por exemplo na sexualidade).

O Homem pré-Freudiano era considerado como um ser racional (lógico), que controlava os seus impulsos e ações através da vontade, ou seja, negava-se a existência do inconsciente. A teoria de Freud defendia que consciente era diferente de psíquico e que era o inconsciente (impulsos, desejos, vontade, entre outras) e não a razão que dominava o Homem. Segundo esta teoria, o Homem procura o prazer, mas receia-o, por ser socialmente incorreto, e, por isso, adota uma atitude recessiva em toda a sua vida.

Freud idealizou duas teorias, que explicariam a composição do psiquismo humano:

1ª Teoria- consciente, pré-consciente e inconsciente:

Na 1ª teoria Freud iguala o psiquismo humano a um iceberg, sendo que tal como no homem, apenas uma parte emerge à superfície. 

1.    A parte emersa do iceberg corresponde ao consciente, ou seja, à zona da razão, raciocínio, lógica, organizações mentais. Nesta zona estão incluídos todos os pensamentos e ações que o Homem é capaz de lembrar, realizar e controlar voluntariamente. Ao contrário do inconsciente, o ser humano consegue controlar o consciente, de acordo com as suas necessidades. O sistema consciente recebe a informação através das exaltações provenientes do exterior, registando essa informação de acordo com oi prazer ou desprazer que ela causa. A perceção, pensamento, juízo crítico, evocação, antecipação, atividade motora, etc. -, processam-se no sistema consciente, embora este funcione intimamente relacionado com o sistema inconsciente. O sistema consciente pode ser analisado através de métodos de introspeção, ou seja, analisando aquilo que se passa na nossa mente e dos acontecimentos conscientes.

2.    O pré- consciente constitui uma zona de transição entre o consciente e o inconsciente, sendo que no iceberg constitui a zona flutuante de passagem entre a parte visível e a oculta. Refere-se à parte das memórias, dos registos e arquivo, que podem ser recuperados com uma certa facilidade. Tem como principal função impedir os impulsos e ações que são socialmente incorretos, recorrendo ao recalcamento (censura). Este processo é muito importante pois funciona como um filtro para os impulsos e comportamentos.

3.    O inconsciente é a parte submersa do iceberg, onde se encontram os desejos, as vontades, os medos, as censuras, etc.. Os desejos e impulsos que tentem aflorar ao consciente serão reprimidos, no entanto, é importante salientar que o inconsciente não significa a ausência do consciente.

2ª Teoria- ego, superego e id:

A estrutura da personalidade, que antes era diferenciada em inconsciente, pré-consciente e consciente, foi substituída pela estrutura do id (forças biológicas, instintivas da personalidade), ego (princípio da realidade) e o superego (forças repressivas da sociedade). O Id, Ego e o Superego são as estruturas essenciais da personalidade, estabelecendo entre si uma relação conflituosa à qual se deve o dinamismo da vida psíquica. Assim, na 2ª teoria estamos perante uma visão mais completa e descritiva entre as instâncias psíquicas.

1.    Ego: segundo esta teoria, o ego começa a desenvolver-se por volta dos 6 meses, pois é nesta fase que a criança começa a ter contacto com as privações e censuras do mundo exterior. O ego surge do confronto entre o id e o mundo real, revelando-se quais os impulsos que devem ser controlados e quais os desejos que podem ser satisfeitos. Esta estrutura psíquica baseia-se no inconsciente e forma-se a partir do id, sendo o mediador entre os impulsos e os comportamentos e ações observáveis. (superego e id), ou seja entre o meio e os impulsos. É racional e lógico, tendo a noção daquilo que pode ou não ser feito e mostrado de acordo com as circunstâncias, vai aprendendo que nem tudo é possível (realismo). Em suma, representa os aspetos racionais e razoáveis da nossa personalidade, ajudando-nos a adaptar a um mundo desafiante.

EXEMPLO: Necessidade a satisfazer: a fome.

Imaginemos uma situação em que estamos esfomeados, queremos comer, mas não temos como pagar.

O ego dir-nos-ia “Se for possível comer sem pagar, fá-lo”, ou seja, “podes comer sem pagar desde que ninguém repare; caso contrário, faz o que é realmente aconselhável”.

2.    O superego é o “julgador” entre as nossas ações e pensamentos. Esta estrutura psíquica desenvolve-se aos 3/5 anos aproximadamente, quando os pais começam a ensinar às crianças algumas regras e deveres que devem ser respeitados na vida em sociedade, recorrendo a recompensas e repreendas de acordo com as ações da criança. Por volt dos 7 anos este controlo que é feito a partir do exterior, já acontece de uma forma espontânea e automática.

O superego inclui o ego ideal (a imagem perfeita do que somos e do que podemos ser) e a nossa consciência (as regras de bons e maus pensamentos e comportamento). O superego representa a moral, isto é, aquilo que devemos ou não fazer.

EXEMPLO: Necessidade a satisfazer: a fome

Imaginemos uma situação em que estamos esfomeados, queremos comer, mas não temos como pagar.

O superego dir-nos-ia ”para satisfazer a fome, deves pagar”, ou seja, “deves agir corretamente, não por medo de castigos e punições, mas porque assim é que deve ser”. Roubar é sempre um crime seja visto ou não.

Quando o superego não concorda com uma ideia do id, reprime-a. Segundo o moderador (ego) entre o id e o superego, se a ideia for boa o ego deixa passar para o superego, senão fica censurada.

3.    Id: representa os instintos e impulsos, desenvolvidos à nascença, rege-se pelo princípio do prazer e tem como principal função responder e satisfazer os desejos e instintos. Grande parte dos desejos nele contidos é de natureza sexual e agressiva. Tenta satisfazer os desejos e instintos de modo a evitar a dor e obter prazer, desligando-se da realidade e das normas e deveres que devem ser cumpridos. Id é o reservatório da libido (energia das pulsões sexuais) e é completamente irrealista, não distinguindo o que é desejável do que é possível e distinguir o que é certo ou errado. Não atua segundo princípios lógicos e morais, procurando a satisfação imediata sem valorizar as circunstâncias da vida real. Nasce com a criança, sendo a única motivação do bebé nos primeiros meses de vida, o que significa que a energia psíquica deriva apenas de tendências instintivas de natureza biológica, cujo único objetivo é a satisfação imediata na busca exclusiva do prazer.

EXEMPLO: Necessidade a satisfazer: a fome

Imaginemos uma situação em que estamos esfomeados, queremos comer, mas não temos como pagar. O Id diria “come porque tens de comer”, sem pensar em possíveis punições nem se é correto ou incorreto agir assim.