Para
tentar perceber o desenvolvimento da moral, Kohlberg desenvolveu um estudo com
várias crianças e adolescentes Kohlberg fez um estudo no qual apresentava aos
sujeitos da investigação várias histórias ou dilemas morais hipotéticos que
tinham como objetivo colocar o indivíduo diante de um conflito entre o cumprimento
e das regras ou ao respeito pela autoridade em oposição a uma resposta
utilitária ou de bem maior. Kohlberg utilizava o método clinico, tal como
Piaget, apresentando a cada individuo uma história de cada vez, pedindo-lhe que
a julgasse e apresentasse justificações e soluções para as suas escolhas. Uma
das histórias mais utilizadas por Kohlberg na sua investigação era a história
de Heinz. Através nestas historias e dilemas, Kohlberg propôs uma teoria, na
qual referia que o desenvolvimento moral é feito a partir de uma sequência
invariante, de 3 níveis de raciocínio moral. Cada um destes 3 níveis estava
dividido em 2 estádios, o que no total faz 6 estádios de desenvolvimento.
NIVEL
1: MORALIDADE PRÉ-CONVENCIONAL OU PRÉ-MORAL (INFÂNCIA) - crianças do 1º ciclo,
ou seja, crianças até aos 9 anos, bem como alguns adolescentes e grande número
de delinquentes)
Neste nível, as egras e normas da sociedade (moralidade) são completamente
externas ao sujeito, isto é, a criança adapta-se às regras que lhe são impostas
pelas figuras de autoridade para evitar um castigo ou para obter recompensas.
·
Estádio 1: Moralidade heterónoma
(orientação para a punição e obediência)
Neste
estádio a criança tem um ponto de vista egocêntrico e, por isso, a criança
apresenta um “respeito” egocêntrico em relação à autoridade, isto é, adapta-se
ás regras para evitar um castigo ou para receber uma recompensa (decidindo o
que está certo ou errado com base nas suas consequências). A criança não se
preocupa com os diferentes pontos de vista e não consegue interpreta-los em
simultâneo. A criança não tem noção da regra, nem consegue avaliar as
intenções, sendo que para ela a gravidade de uma situação está relacionada com
as consequências que esta pode trazer.
EX:
As atrocidades de soldados durante o holocausto que estavam simplesmente a
‘obedecer a ordens’ sob ameaça de punição, mostram que os adultos, e não só as
crianças, podem funcionar a este nível (o que é que eu posso fazer para evitar
a punição?)
Em
suma: neste estádio aquilo que está correto é a obediência às regras e à
autoridade, como forma de evitar uma punição ou até mesmo receber uma
recompensa.
·
Estádio 2: individualismo, propósito e
troca instrumental.
Neste
estádio o individuo tem uma mentalidade egoísta, pois para ele agir
corretamente è satisfazer as suas necessidades e apenas ocasionalmente as dos
outros. A criança obedece à autoridade não só para evitar castigos e receber
recompensas, mas também para satisfazer alguma necessidade pessoal, ou seja,
apenas deve obedecer às regras quando se trata do interesse imediato de alguém,
agindo de forma a satisfazer os próprios interesses ou necessidades e deixar os
outros fazerem o mesmo. A criança apenas faz coisas aos outros se eles lhe
retribuírem o favor- reprocidade pragmática- sendo que criança não tem uma
verdadeira noção da regra, pois para ela a gravidade de uma má ação depende da
intenção de quem a prática. Neste estádio constrói-se a reciprocidade, mas é
uma reciprocidade egoísta (ex.:. “Não está certo roubar numa loja. É contra a
lei. Podia ser descoberto e alguém chamava a polícia”).
Em
suma: neste estádio, o correto é a satisfação das nossas necessidades e
interesses, sendo que aquilo que está certo é seguir as regras quando elas são
benéficas para nós, deixando os outros fazer o mesmo. Neste estádio a criança
reconhece que os outros também têm interesses e necessidades, sendo que assume
uma prespectiva concreta individualista e separa os seus interesses dos outros.
Os conflitos de interesses resolvem-se dando a todos uma parte igual.
NÍVEL
2: MORALIDADE CONVENCIONAL (ADOLESCÊNCIA) - da adolescência em diante [a maior
parte dos adolescentes e adultos]; a maior parte das pessoas fica aqui, não
avança mais.
Os
indivíduos já interiorizam e adotam, como sendo suas, as regras morais e
esforçam-se por obedecer às regras estabelecidas por outros, para obter
reconhecimento pelo seu comportamento.
O
indivíduo considera correto aquilo que está conforme e que respeita as regras,
as expectativas e as convenções da sociedade.
·
Estádio 3: Expectativas interpessoais
mútuas, relacionamento e conformidade interpessoal. Neste estádio as ações são
avaliadas de acordo com as intenções de quem as pratica, sendo que o principal
objetivo é ser considerado boa pessoa, ter boas intenções e estabelecer
relações com os outros. O individuo passa agora a ter um pensamento mais
abstrato, começando a preocupar-se com aquilo que os outros pensam ou sentem. A
família e os pequenos grupos começam a tornar-se mais importantes, sendo que
aquilo que importa é corresponder às expetativas das pessoas mais próximas ou
áquilo que as pessoas esperam dos indivíduos, o que pode provocar várias
vulnerabilidades (Ex: na adolescência os outros significativos (pares) podem
atuar como pressão de normas de conduta. Pode originar situações de juízo
contraditórias (em termos pessoais) e posições morais radicais, não há
relativização (manda a maioria = estereótipos diversos consoante o grupo)).
Em
suma: Neste estádio o mais correto é simpático, ser boa pessoa, dígono de
confiança, vivendo de acordo com aquilo que os outros esperam que façamos. Este
estádio é caraterizado tanto pela perspetiva do indivíduo como pela perspetiva
dos outros. Uma pessoa que se situe neste estádio sabe relacionar-se com
diferentes pessoas, ou seja, sabe aceitar diferentes pontos de vista em
simultâneo e é capaz de colocar-se no papel dos outros.
·
Estádio4: Sistema e consciência
social, manutenção da lei e da ordem.
Este
estádio está relacionado com a obediência e respeito pelas leis e autoridade e
pelas expetativas que a sociedade deposita em nós. Realização dos deveres
faz-se não tanto para evitar a punição, mas com o objetivo de manter a ordem
social, considerando que as leis existem para serem cumpridas e que a sociedade
espera que cada um cumpra o seu dever. A
justiça obriga que aquele que infringir a lei seja “castigado” e que aqueles
que obedecem às regas sejam recompensados, sendo que um comportamento é
considerado correto ou moral, segundo a forma como se enquadra nas regras da
sociedade. Espera-se um autossacrifício relativamente as figuras de autoridade,
que raras vezes são questionadas (“Ele deve saber melhor. Ele é o Papa [ou o
Presidente, ou o Juiz, ou Deus]). Por vezes surgem problemas quando as leis são
pouco claras, e entra-se em conflito (e.g. dilema de Heinz- direito à vida da
mulher versus direito de propriedade).
Em
suma: Neste estádio, aquilo que está certo é cumprir as normas e regras da sociedade,
mantendo a ordem da mesma e zelando pelo bem-estar de todos. Uma pessoa neste
estádio assume o ponto de vista do sistema (aquilo que já está pré-definido) e
considera as relações interpessoais em termos do seu lugar no sistema.
NÍVEL 3:
MORALIDADE PÓS-CONVENCIONAL (só alguns adultos, a minoria dos adultos)
A este nível o indivíduo considera sempre
diversos pontos de vista e cada situação é pensada de modo a extrair-se
princípios gerais (para todos). Um indivíduo situado neste nível compreende e aceita
as regras da sociedade na sua globalidade, mas apenas porque primeiramente
aceita determinados princípios morais gerais que lhe estão subjacentes. De
facto, os princípios morais podem transcender figuras de autoridade ou até as
normas ou valores de uma sociedade particular. No caso de um desses princípios
entrar em conflito com as regras da sociedade, o indivíduo julgará com base
nesse princípio e não na convenção social. Por outras palavras, os princípios
morais são internalizados e tornam-se individualizados.
·
Estádio 5: Contrato social (ou direitos individuais
democraticamente aceites (Exemplo: Constituição dos EUA)).
Neste
estádio o comportamento moral consiste naquilo que expressa a vontade da
maioria ou maximiza o bem-estar social. A sociedade deve basear-se num contrato
social aceite livremente pelas pessoas e em que sejam respeitados direitos
fundamentais como a vida e a liberdade individual e utilizados processos
democráticos para alterar as leis e melhorar a sociedade.
Isto
significa que as pessoas têm consciência de que os indivíduos defendem
diferentes valores e opiniões, e de que grande parte dos valores e das regras
são específicos de determinado grupo (embora devam ser normalmente respeitados
a fim de se garantir a imparcialidade ou isenção, até porque fazem parte do
contrato social). No entanto determinados valores e direitos não específicos,
como a vida e a liberdade, têm de ser forçosamente defendidos em qualquer
sociedade, independentemente da opinião da maioria.
Em
suma: neste estádio, a escolha moral, aquilo que é coreto baseia-se nos
direitos básicos, nos contratos legais e nos valores morais, mesmo que haja
conflitos com as leis ou regras do grupo. O que é correto é ter consciência que
as pessoas nem sempre partilham os mesmos valores e que, por vezes, as leis e
as regras do grupo são injustas e não merecem, portanto, ser obedecidas. Aquilo
que leva a que as pessoas façam o que está correto baseia-se na necessidade de
respeitar os contratos e os direitos dos outros. Neste estádio o individuo
considera o ponto de vista legal e o ponto de vista dos outros e procura
reconhecer o conflito entre eles, de forma a fazer escolhas que tragam o maior
bem para o maior número de pessoas.
·
Estádio 6: Princípios éticos universais.
Neste
estádio está incluído um número muito reduzido de indivíduos. O comportamento
que é considerado correto e moral é
controlado por um ideal interiorizado,
que é independentemente das reações dos outros, mas que respeita sempre
os princípios universais (ex.: igualdade de direitos, dignidade e justiça).
Neste estádio cada pessoa é vista como um meio e nunca como um meio. A
definição daquilo que é correto ou errado é feita com base em princípios éticos
que são adotados por cada individuo, sendo que se dá preferência pelo
cumprimento do dever e pela consciência de cada individuo, por isso devemos
seguir os nossos princípios éticos. Estes princípios não são regras concretas,
mas sim orientações que cada individuo considera justos e que podem ser
aplicados em todas as situações, sendo que estão relacionados com a conceção de
justiça, direitos humanos e igualdade de oportunidades. Quando a lei viola os
princípios éticos, a pessoa deve agir de acordo com os princípios éticos, ainda
que tenha de violar as leis Indivíduos no estádio 6 são raros, muitas vezes
valorizam os seus princípios mais do que a própria vida, muitas vezes são
vistos como sendo o potencial humano máximo e, por isso, são frequentemente
marginalizados por aqueles de estádios mais baixos, que se sentem envergonhados
por verem as capacidades humanas tão desenvolvidas, comparado com as suas
próprias capacidades que só estão parcialmente desenvolvidas.
Em
suma: Neste estádio, o comportamento que se considera correto é aquele que
obedece aos princípios éticos universais. As normas e regras, os contratos e
acordos sociais são válidos sempre que respeitam esses princípios. A razão para
fazer o que está certo é que a pessoa reconhece a validade dos princípios e
procura cumpri-los.